
I not going to use false threats with you anymore. I don’t need. The threads are real.
Proclamada a sete ventos que seria a estreia do ano, Fringe era das séries mais esperadas a um bom par de anos. Com o nome de J.J.Abrams a encabeçar a série, a série prometia trazer o que Lost tem de melhor e adapta-la a este tipo de ciência. Claro que o nome de J.J.Abrams movimenta massas, abre logo expectativas. Mas Fringe tinha um problema logo de base para resolver: demarcar-se da X-Files. A série que já saiu a uns aninhos da televisão americana deixou um legado. Fringe tentou, primeiramente separar-se deste cordão umbilical que a estava a esganar. E logo no episódio de estreia deu para perceber que o tema de efeitos irreais para o comum humano seriam tratados de maneira diferente. E a série começou a percorrer o seu caminho.
Com um piloto promissor, a série é apresentada. Um acidente de avião é o ponto de partida para uma pintura mais extensa. E é essa extensa pintura que Olivia Dunham, agente do FBI, e a sua mini-equipa, constituída por Walter Bishop, o cientista que tem um dedo em tudo o que se aproxima deste tipo de ciência, e o seu brilhante e bem-humorado filho Peter Bishop tentarão decifrar. Um “padrão” escondido pelo melhor dos pintores, a própria humanidade. A série ganhou interesse com o piloto, mas faltavam ainda 19 episódios para percorrer.
E foi a partir dai que a série começou a cometer alguns erros. Tentando encher o que faltava da temporada, a série começou por ser um acumulado de casos. Não tenho, nem terei nada contra estes casos. Os casos foram muito bem construídos, apoiados cientificamente (ainda ninguém veio dizer que aquilo era tudo mentira) e deixava sempre água na boca, apesar de haver sempre o patinho feio, um caso que só deixava alguns bocejos. Foram poucos, mas que os houve, houve. Mas o que aconteceu a Fringe foi o erro que muitas vezes se comete. A série perdia o objectivo que era proposto. Apesar de tudo estar ligado ao “padrão” a série perdia fluidez, faltava algo que desse um sentido de continuidade aos episódios. Eram mais episódios soltos. Para além disso, o que ainda chateou mais é que este sentido de continuidade estava lá. Havia algo que ficava pendente do caso, algo por responder. Algo que ficava eternamente pendente.
E depois há aqueles episódios cheios de ritmo, que se têm caso é só para dizer que o houve, e que deixam antever que a série sabe o caminho certo para o sucesso. Os dois últimos episódios são o exemplo mais flagrante deste tipo de episódios. Episódios onde as perguntas não ficam no ar, mas são respondidas. O mundo de Fringe torna-se mais lúcido. E fica mais interessante ver a série. Todas, ou quase todas as perguntas que ficaram por responder durante os outros episódios são respondidos nestes dois últimos. Mas outras questões se levantam. Aí é que reside também a magia de Fringe. Apesar de as questões não costumarem ser respondidas no episódio seguinte, sabemos que teremos a resposta. Deixa-nos prisioneiros da série. A série, para além disso, apoia-se em mais alguns detalhes provenientes de J.J.Abrams. Primeiro a abertura, que a exemplo de Lost, foi criada pelo criador da série. Tanto a música de fundo como as imagens levam-nos a entra no espírito de Fringe. Para além disso, temos os simplesmente pormenores, os easter eggs que já fazem parte do mistério da série. É sempre uma procura intensa por todos os pormenores, por todas as construções de cena, por todas as falas. Uma caça.
Outra caça de Fringe cai sobre o personagem mais misterioso da série. The Observe é um autêntico quebra-cabeças. A personagem foi-se apresentando aos poucos, foi-se construindo o mistério a sua volta. Quem é The Observer? Qual é a sua função? Perguntas ainda não respondidas. O que sei é que ele tem bastante perspicácia no que toca a aparecer locais onde “o padrão” está presente. Mas não só de mistério que a série se constrói. Fringe consegue variar muito bom para o estilo humorístico, que aparece por vezes na série, apesar de ser de passagem. Para isso contribui Walter Bishop, o cientista louco que tem pedidos sempre excêntricos a fazer, interpretado por John Noble. A série ganha ainda mais interesse devido a este pequena contribuição de Bishop, algumas vezes acompanhado pelo filho, e serve sempre para quebrar a corrente.
E o que esperar desta segunda temporada? Mais uma obra-prima de J.J.Abrams, que espero que não desiluda. Pelo menos o final da primeira deixa muito em aberto. Universos paralelos é algo que, se for bem explorado, como parece que vai ser, trará excelentes momentos Fringe a série. Claro que a série deverá cair de novo no erro de construir episódios com o caso, mas se tivermos uns episódios finais como aconteceu com a primeira temporada, penso que ninguém se arrepende de ver a série. Para acabar, dar os parabéns a Anna Torv que consegui, na sua primeira aparição em grande destaque no mundo das séries, construir uma personagem consistente, emotiva e determinada. Era o que Olivia Dunham pedia, era o que a série pedia, era o que nós precisávamos.
