They didn’t break me, I am broken.
House está de volta. Após uma quinta temporada que deixou muito a desejar, o regresso trouxe de novo um House que conhecemos. Num episódio muito bem construído, não vimos casos, não vimos pacientes, vimos uma pessoa: House. One man show.
Não vinha com muitas esperanças para este episódio. Primeiro por causa do tempo, pois não estava a ver-me 90 minutos pregado ao computador com House preso num e a um hospital psiquiátrico. Segundo porque não estava a ver House, como série, aguentar 90 minutos sem um paciente, sem um caso, sem um puzzle para o protagonista resolver. Redondamente enganei-me. E ainda bem que isso aconteceu. Pois foram 90 minutos muito bem gastos, com um episódio que me deixou preso ao computador. Pois não foi um episódio de House, foi um episódio sobre House.
House, desde a primeira temporada, pouco modificou. Teve alguns momentos que tinha mudanças, mas estas eram logo retiradas, voltava-se ao mesmo House. Até que este House atingiu o limite. Precisava-se de um novo House, de alguém mais fresco. Foi para isto que o episódio serviu. Para mostra um House diferente, um House mais verdadeiro. Pois o House do final do episódio sempre existiu. O que era é que estava sobreposto por outro House.
E é este “outro House” que vemos na primeira parte do episódio. Sim, um House em mudança, mas não em mudança do que interessa. Para quem interessa que House tome medicamentos? A consequência dos medicamentos é que mantinha a série interessante. Ou seja, na primeira parte não vemos um House diferente da 5ª temporada. É o mesmo House, só que sem medicamentos. Um House que atormenta o resto das pessoas, que não se enfrenta a si próprio. Um excelente exemplo disso é o jogo de basquetebol, no qual ele elimina todos os seus adversários usando a sua desumanidade. É um House solitário, um House “bad boy”, que não se deixa vencer pelo sistema, mas sim contorna-o para seu proveito.
Foi a parte mais divertida do episódio. Vimos um House sempre imaginativo, que não pára de atormentar a clínica onde está, contra a sua vontade. Vemos um House engenhoso, um House que não se preocupa quantas pessoas tem de magoar para sair da sua prisão. Vemos um House que faz de tudo para se libertar. Mas a consciência é algo que, apesar de estar bem escondida em House, está lá. E num destes “brilhantes” planos de House que tudo se volta contra ele. A consciência aparece mais que nunca, e começamos a ver um House diferente, um House que percebe que não poderá viver assim. Um House totalmente distinto.
A partir daí vemos um House mais cooperante, mais humano. Um House novo. Começa a ajudar, mas continuamos a não perder o House antigo. House, para viver, precisa de puzzles para resolver. E começa, intuitivamente, a arranja-los no hospital psiquiátrico. Tenta começar a corrigir o incorrigível. Mas é só quando dá conta do erro que consegue corrigir. O House antigo não resolveria aquele problema porque nunca iria pedir desculpa. Outra mudança para melhor.
Para além disso, vemos um House sem medo de assumir relacionamentos. E sofrer com a quebra de relações pessoais. Um sinal poderá sair daqui para a relação House-Cuddy. House está mais social, mais romântico, propicio a mais e melhores relacionamentos. Vamos ver o que sai daqui.
Para acabar, é interessante reflectir sobre o companheiro de quarto de House. O seu compincha dentro do hospital é igual a House, antes da saída do hospital. Pois ambos têm medo de mudanças. Pois ambos têm medo que se mudarem um aspecto, nem que seja pequeno (ou seja, começar a tomar medicamentos), na sua vida perderão o seu dom. Ambos têm medo de perder aquilo em que são bons. E ambos concluem que não poderão ficar pior do que estavam. Foi o ponto de partida para ambos. House percebe que não poderá viver sem mudança.
Antes de fechar, falar de Hugh Laurie. Com um episódio destes, Hugh pode brilhar. Uma dádiva na representação. Para quem quiser seguir teatro deverá ver estes 90 minutos do actor britânico. Também foi um One Man Show em termos de representação.
Foi um episódio que deixou água na boca para esta sexta temporada. As audiências corresponderam. Pois foi um episódio de House e não de House MD. A abertura começa por dizer isso, mas nós vamos percebendo ao longo do episódio.